Temos vivido um tempo onde impera uma
espécie de inflação de imagens, excesso de um imaginário fértil, produtor de
ilusões. Só pode ser a arte a detentora mestra de tal poder, visto que o
artista, ao criar, produz recortes da vida que são carregados de uma capacidade
inventiva não submetida ao “real”. Tais recortes – fruto de uma percepção
especial e individual - ao mudar de contexto, ou
seja, migrar do vulgar para a obra - geram um
significado ficcional, outra coisa. Na arte encontra-se a liberdade. Sem
indícios de culpa, os artistas são protagonistas de ilusões, e não desveladores
da verdade – que permanece sob um véu; aqui seria um tema grande demais, para
um ensaio pequeno.
Nesse ponto indagamos se há
uma ética envolvida no processo; se os criadores estão cientes do quanto as
suas transformações alteram, ampliando ou diluindo, o campo de compreensão das
pessoas comuns, alheias ao universo artístico. Afinal, o apreciador será levado
a refletir. Terá que repensar certos valores, avaliar uma realidade nova,
refeita, que lhe é oferecida pela arte como sendo arte, e que se impõe ao seu
lugar. Esse visitante, um leigo de boa fé, pode até apreciar uma exposição de
grandes ilusões, mas pode também sentir a necessidade do velho Moderno que lhe é ainda familiar.
Moderno? nós sabemos
que o pós-moderno (nasc. 15 de julho de 1972 às 15h32 hora oficial - há
controvérsias), que deu lugar ao nosso contemporâneo, dispensou o novo e se
abriu ao novíssimo, revolucionando a arte, e todo o resto, em consequência. Experiências estéticas já não teriam nada a
ver com a Beleza. Toda proximidade com uma arte comprometida com o claro e
descoberto entendimento, seria preterida. De lá pra cá, demolindo culturas, definitivamente,
a arte em seu espírito inquieto, continua desconstruindo e desafiando todo o
estabelecido. A ordem é interferir.
O artista não habita numa
imanência. Despreza as relações necessárias de causa e efeito. Ele transita no
campo da transcendência. Pode-se dizer que é de outro mundo, onde lhe é
permitido voar pelo inexistente. Ousar sem medo.
Resta à sociedade
trabalhar para educar-se na direção dessa compreensão. A ética está sim na boa arte, mas é
necessário, como entende Gadamer, aprender a ver, olhar sem pressa, dar o tempo
necessário à obra. Com isso então, ela dirá a que veio.
Deuseni
Martins
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