sexta-feira, 30 de março de 2012

SOBRE A ARTE


                               
                        Temos vivido um tempo onde impera uma espécie de inflação de imagens, excesso de um imaginário fértil, produtor de ilusões. Só pode ser a arte a detentora mestra de tal poder, visto que o artista, ao criar, produz recortes da vida que são carregados de uma capacidade inventiva não submetida ao “real”. Tais recortes – fruto de uma percepção especial e individual - ao mudar de contexto, ou seja, migrar do vulgar para a obra - geram um  significado ficcional, outra coisa. Na arte encontra-se a liberdade. Sem indícios de culpa, os artistas são protagonistas de ilusões, e não desveladores da verdade – que permanece sob um véu; aqui seria um tema grande demais, para um ensaio pequeno.
                              Nesse ponto indagamos se há uma ética envolvida no processo; se os criadores estão cientes do quanto as suas transformações alteram, ampliando ou diluindo, o campo de compreensão das pessoas comuns, alheias ao universo artístico. Afinal, o apreciador será levado a refletir. Terá que repensar certos valores, avaliar uma realidade nova, refeita, que lhe é oferecida pela arte como sendo arte, e que se impõe ao seu lugar. Esse visitante, um leigo de boa fé, pode até apreciar uma exposição de grandes ilusões, mas pode também sentir  a necessidade do velho Moderno que lhe é ainda familiar.
                            Moderno? nós sabemos que o pós-moderno (nasc. 15 de julho de 1972 às 15h32 hora oficial - há controvérsias), que deu lugar ao nosso contemporâneo, dispensou o novo e se abriu ao novíssimo, revolucionando a arte, e todo o resto, em consequência.  Experiências estéticas já não teriam nada a ver com a Beleza. Toda proximidade com uma arte comprometida com o claro e descoberto entendimento, seria preterida. De lá pra cá, demolindo culturas, definitivamente, a arte em seu espírito inquieto, continua desconstruindo e desafiando todo o estabelecido. A ordem é interferir.
                            O artista não habita numa imanência. Despreza as relações necessárias de causa e efeito. Ele transita no campo da transcendência. Pode-se dizer que é de outro mundo, onde lhe é permitido voar pelo inexistente. Ousar sem medo.
                           Resta à sociedade trabalhar para educar-se na direção dessa compreensão.  A ética está sim na boa arte, mas é necessário, como entende Gadamer, aprender a ver, olhar sem pressa, dar o tempo necessário à obra. Com isso então, ela dirá a que veio.
                                                                                    Deuseni Martins 

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